07/07/07

A emoção de ter gatos

Pêlo, muito pêlo espalhado pela casa. Adeus roupas escuras com ar impecável. O pêlo entranha-se, infiltra-se em todos os compartimentos e descobre a roupinha limpinha e conspurca-a com a sua indelével marca. Não há ninguém que não tenha ido lá a casa e tenha saído impoluto nas suas vestes.
Os brinquedos (das gatas) passam a vida espalhados pela casa e se não estão, é porque algo se passa. Aqui fico com receio que descubram outros objectos e os transformem em brinquedos. Mudar a areia do WC delas é outros dos rituais quase que quotidianos. E se por algum motivo a areia está muito porca, elas vêm ter comigo reclamando com um característico miar, incitam-me a acompanhá-las até ao local e aí percebo se é falta de comida, água ou a areia que precisa de ser renovada. E quais as vantagens? Enchem a casa de alegria, com as suas piruetas, são muito meigas e afectuosas e transmitem-me através do olhar e pequenos gestos o seu amor e reconhecimento. São bastante autónomas e independentes. Elas compreendem que a “mãe” nem sempre está em casa e que isso é normal. E eu compreendo que elas gostam de passar o tempo a fazer longas sestas.
O problema maior são as boas maneiras que não existem. Desde muito cedo ensinei-lhes que as mesas são locais interditos à gatas, embora tenha a certeza que na minha ausência deve ser uma grande farra. Quando estou por casa, não se atrevem. Por exemplo se levo um tabuleiro com alguma coisa para comer é um luta de forças, porque acham sempre que estão no direito de com a pata devem tirar um pouco, nem que seja para brincar. Apesar dos esforços, este continua a ser o principal mal. Quando vai lá alguém a casa, fogem para debaixo da cama, passado algum tempo vêem para a sala socializar o que para elas é saltar para o colo e encher as visitas de pêlo. Adoram os sacos e cheirar os sapatos. Por vezes ficam-se nos puffs, suplicando mimos, o que regra geral funciona sempre.
Questões como mau hálito não as preocupa, mas mim incomoda. Gostaria tanto que mascassem chiclets já que aventura e lhes lavar os dentes me parece algo semelhante a filme de terror. É que apesar do ar doce, elas têm umas unhas bem pontiagudas...E a dona garbo gosta de se aproximar do meu rosto e cheirá-lo e dar-me uma turrinha no nariz, é um gesto de afecto que me faz quase trocar os olhos, o que para ela deve simbolizar carinho, mas no fundo é outra cosia. Regra geral sinto o hálito intenso de gata que desconhece o objecto escova de dentes e pasta, mas como mãe humana suporto e não lhe "digo" nada. Antes a gata do que eu...
Vida nova
A minha semana começou da melhor forma. Ao contrário da minha má fama de sisuda e rosto pouco revelador de simpatia, consegui em escassas horas conhecer novas colegas (sim, a bem dizer somos só gajas, o habitual…), conversar bastante e concluir que não sou o único ser humano à procura de um novo rumo no seu percurso profissional. Há mais como eu, muitas mais... No final do dia estava com o ego rechonchudo e algo confusa, consegui criar empatia com as colegas e estar à vontade para me rir. Fiquei a achar que vivia num mundo cor-de-rosa e apesar das dicas de uma amiga minha que tipo "mãezinha" me deu na véspera me deu conselhos maternais do género daqueles que se devem dar no primeiro dia de aulas como "sorri às pessoas", "Vê lá o que dizes, mas põe uma cara alegre se não ninguém vai gostar de ti" etc etc e eu fiquei a pensar que era um bichinho papão. Afinal não sou. Embora os dados estatísticos não abonem a meu favor. De todos os meus amigos e conhecidos só houve uma pessoa que me achou logo à primeira simpática. Ainda hoje, se não a conhecesse bem, nomeadamente os seus hábitos alimentares, julgaria que estivesse alcoolizada. Mas é facto que nos conhecemos num ambiente muito austero em que por precaução me limitava a cumprimentar as pessoas e responder meramente ao que me perguntavam. E mesmo assim, achar-me simpática, foi quase rara. Desta vez a realidade é diferente, não sei o que me espera e apesar de comedida nas gargalhadas e piadas, acabei o dia com o saldo de ter “ar de pessoa simpática”, de “ser uma pessoa humilde” e de “ter um ar meigo”, tudo porque nos diversos testes de selecção ficaram com essa ideia da minha pessoa. Pois, quem diria, hein?! Eu, simpática assim logo à primeira. Daqui a uns meses começo a fazer parte da mobília da casa e passo a amiga inseparável, a ser convidada para baptizadas e churrascos. Não posso, é muita coisa para a minha pequerrucha agenda. Eu sou um ser social, ficou provado e vou passar a andar de t-shirt com essas palavras. Brincadeira.. Mas que estou perplexa, estou…. Mas se as minhas "coleguitas" pensam isso, para quê contrariar. Muito bem, eu acrescentaria uma ou outra coisa mais, mas como passou uma semana, vou-lhes dar tempo para acrescentar algo mais ao meu currículo, eh, eh. Mas aquelas frases até me assentam bem, muito bem mesmo… A semana foi igualmente muito enriquecedora a nível de conhecimentos, ficou provado que "pensar cansa", pelo menos a mim. Ouvir os outros exige muita concentração, nomeadamente não podendo interromper sempre que me apetece, tipo de 15 em 15 minutos. Conclui igualmente que os computadores são “bicharocos” que amuam com regularidade, ou seja, bloqueiam e deixam de trabalhar, provocando um nervoso miudinho pronto a despoletar um vendaval de choro e birra.
Nunca pensei que estar oito horas por dia em formação pudesse ser tão cansativo. Senti que os meus neurónios há muito não eram exercitados. Os vários milhões (ou no meu caso seriam dezenas?) de repente forçados a deixarem a vida pacata que levavam e terem de andar numa azáfama quotidiana. Seria possível em tão pouco tempo recuperar o tempo perdido? A ver vamos, a próxima semana será igualmente de formação e de muito tempo para nós, "moi" e neurónios.